sábado, 16 de abril de 2011

A iniciação do Ser


Gradualmente a idéia da auto-iniciação está se espalhando na forma de uma iniciação a um culto, crença ou tradição. Em particular isto é comum nas formas da wicca e bruxaria eclética. Esta é uma idéia curiosa que ao mesmo tempo em que adentra no cerne, se lança para fora dele. Percebo a natureza da auto-iniciação como refletindo um indivíduo que sente um certo chamado e administra os ritos de sua indução sem um intermediário ou professor presente. É uma oferta de servitude e dedicação ao poder que se deseja evocar. Pelo lado bom denota uma escolha pessoal e uma afirmação de crença, aonde o espírito anfitrião é evocado para testemunhar o ato. É um sintoma da humanidade sentindo-se espiritualmente perdida e que procura se reconectar com o que percebe estar perdido. Eles querem se re-ligar, re-anelar sua crença, eles querem fazer sua religião. Muito frequentemente o que está acontecendo é verdadeiramente o que o termo auto-iniciação significa, que você se inicia (espiritualmente). É uma declaração à Criação de que você está se engajando em uma busca espiritual.

Isto é maravilhoso, mas torna-se problemático quando o mesmo auto-iniciado proclama ser iniciado em um culto, crença ou tradição existente, na qual ele não possui qualquer vínculo pelo sangue ou sopro. Nisto eles tentam se re-ligar a algo que está perdido ou algo que nunca esteve lá. Eles se auto-iniciam em uma fantasia de inclusão.

Esta idéia extendida de auto-iniciação - de que você enquanto um auto-dedicado pode escolher um culto ou tradição e dizer que você faz parte - é enganoso se não uma fanfarronice, especialmente quando a tradição em questão existe e você foi incapaz de se conectar a ela. De minha perspectiva, isto deveria te dizer algo, que sua dedicação não foi atraente aos seus pares. É o que acontece em muitos dos casos, onde pessoas simplesmente usurpam tradições e crenças e se auto-adotam em um caminho sem qualquer aprovação ou ligação com a tradição em questão.


Esta é uma possibilidade moderna e é uma das razões pela qual vejo a modernidade como um regresso e não como um progresso positivo. Então temos pessoas auto-iniciadas na Stregoneria ou bruxaria Basca. Estas pessoas comumentemente são atraídas à ilusão do nome ou da mitopoesia que eles puderem reter, mas para mim, que pus o pé na sujeira e bebi deste fogo é estranho ver esta possibilidade surgindo; de que uma pessoa com uma inclinação sentimental se imponha sobre meu sangue e família. É ainda pior  quando vejo que nada dizem do meu sangue e da minha família, mas somente uma devoção deslocada e falha a qualquer que seja o espírito nos ditos panteões, demonstrando uma completa falta de entendimento, veneração e compreensão do mistério que fez sua teia sob a tradição em questão. Para mim é tão estranho quanto se eu decidisse adotar-me na família de Bragança ou Lionheart só porque eu senti uma afinidade com o brasão da família. Acho isso muito ridículo, porque uma tradição verdadeira age como uma rocha sólida para nossa crença. É a encruzilhada entre o próprio sangue e os que trazem a marca que media a tradição propriamente. Isto se manifesta em Magisters e Damas sólidos, que asseguram a passagem da tocha para que o trovão dos inomináveis possa te incendiar na totalidade de seu potencial. Tradição é a encruzilhada de intercessores humanos e mortais que grava a luz nas pedras

Creio que uma boa iniciação no caminho possa começar com uma dedicação solitária à natureza e um espírito escolhido. Mas isto é o começo de um caminhar, não uma aceitação comunitária que se toma em um sopro, vinho e sangue dado no momento da sua dedicação. A auto-iniciação fala do início de sua jornada espiritual. Isto é algo bom enquanto mantivermos a atenção em nós mesmos e não projetamos isto a uma fantasia de inclusão.

Acho que outro vírus moderno é aquele em que todos querem ser algo eminentes e dignos em nome da ambição. Todos querem ser sacerdotes e sacerdotisas de algo. Nisto a busca espiritual se torna um expositor de problemas pessoais. Ao almejar títulos e status, podemos esquecer de nossa essência e o grande trabalho que somos presenteados quando chega o trabalho sobre a essência. Ao fazer isto, podemos transmitir nossa prória disfunção a um grupo maior e nos inclinarmos aos problemas que demos a outros, como se eles não pertencessem ao fundador da crença disfuncional. Isto é importante, porque quando você assume o papel de sacerdote, sacerdotisa, mestre, guru, magister, sua qualidade neste serviço repousa em como você iniciou e resolveu os mistérios do ser.

Então, aqui apresento para a reflexão: quando você busca uma auto-iniciação, o que você busca? Quando você declara uma denominação ou um pedigree  tradicional à sua iniciação, o que você está realmente afirmando? Quando você afirma que é sacerdote/sacerdotisa, quem é você realmente e por que você assumiu este ofício?


Por Nicholaj de Mattos Frisvold
do blog The Starry Cave
Traduzido por Beto Quintas

2 comentários:

  1. muito melhor.
    agradeço à Qelimat pelas correções.

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  2. Me vi inevitavelmente nesse beco sem saída, e percebi a tempo de continuar minha busca, que essa auto-dedicação não me conectaria com um mistério ancestral.
    Decidi buscar um mestre numa tradição. Mas lendo esse texto aqui, me ajudou a refletir sobre coisas que ja havia pensado antes, mas com uma profundidade maior.

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