This is a portuguese translation of the original article published in The Starry Cave, entitled To Turn a Battle into Dance. If you are an english reader, please click here to visit the author's blog and read the original text.
Transformar
a Batalha em Dança
Provocação
é algo que todos nós experimentamos, seja por acaso ou
deliberadamente. Uma palavra impensada dita num momento inoportuno ou
a ação precipitada que damos ao mundo em um dia ruim pode convidar
o conflito. Às vezes as pessoas provocam algum tipo de reação
porque se sentem mal com elas mesmas ou porque sofrem de inveja. Em
outros momentos, é o medir de força, ou buscam vencer uma
discussão para que se sintam melhor com elas mesma ou com a
filosofia que tomam como bússola em suas vidas. Não há limite para
o que pode nos provocar e, por isso, em vez de acolher a energia
negativa de uma provocação, é melhor dar um passo para trás e ver
o que podemos fazer com a provocação. Para Oscar Wilde a resposta
para uma provocação era pagá-la com bondade, pois nada provocaria
mais do que isso.
Ifá põe iwa
rere no
centro da fortuna — um caráter alegre, calmo e próspero. Se é
isso o que buscamos manter, qualquer provocação será somente uma
dança, e não uma batalha. No odu
Ogùndábàrà encontramos
uma história sobre Obara,
um jovem poder vigoroso associado com um Sango jovem
e imaturo (o espírito do trovão e fogo) que desafiou Ogun. Ogun é
o patriarca dos caçadores, um poder primordial que deu origem as
estradas, ferreiros, e foi fundamental na criação da humanidade.
Podemos dizer que Ogun é
a própria forja, enquanto Obara representa
apenas o fogo — um produto mais jovem da forja. Nesta
história Obara
aparentemente
provoca Ogun ao
ponto de que ele está determinado a matar Obara,
mas ao invés disso ele faz ebo/sacrifício.
Neste caso, seu sacrifício foi uma mudança de atitude na qual ele
percebe que poderia entreter a provocação de Obara,
mas como uma dança e não uma batalha. O verso diz o que se segue:
Rìtìrìtì
ni ojú ijó
Rìtìrìtì
ni ojú ìja
A
dífá fún Ògún
Nlo
ba Òbàrà já ìjà kan
Wòn
nì Ògún á dáa
Sùgbón
ki Ògún wá sebo
Kí
Òbàrà má baà kú síi lórùn
Ó
gbó ó Ru
Wón
ní adie kìí ba adìe já ki ó kú
Agbòn
ìràwé kìí wúwo
Kí
ó d’éru pa’ni
Tumultuoso
é o local da batalha
Este
foi o ensinamento de Ifá para Ogun
Quando
este estava indo se engajar na batalha com Obara
Eles
disseram que Ogun atuaria
bem
Mas
que Ogun deveria
fazer sacrifício
Para
que Obara não
fosse morto na
Peleja
Ele
[Ogun]
ouviu e sacrificou
Eles
disseram que um pássaro não deveria lutar
Com
outro pássaro até a morte
E
uma cesta de folhas secas não é forte o suficiente,
Que
seu conteúdo deva matar alguém
Esta
é uma boa atitude para se manter quando confrontado com provocações
em geral, pois se vemos a batalha como uma dança onde ‘golpeamos’
nosso provocador com ‘folhas secas’, podemos ensinar uma lição
— e ganhar uma lição, embora também devamos ter em mente que a
dança - dentre o povo iorubano - é vista como [composta de]
movimentos cósmicos. A dança pode interpretar os movimentos das
estrelas, ela pode levar a vida desorganizada de volta à harmonia e
pode ser utilizada como divinação ou como um veículo para o
diagnóstico de doenças. Em última análise, a dança tem o poder
de curar e a dança de cura é realizada por pessoas que possuem iwa
rere —
um caráter jovial e calmo. Foi com esta atitude que Ogun tomou
o desafio de Obara,
sabendo que ele era mais velho, mais sábio e mais forte — ainda
assim, estamos todos juntos na dança da vida, neste mercado que é a
nossa jornada. Ogun entendeu
isso e abraçou o desafio com interesse e alegria e não como uma
batalha. Certamente esta é uma atitude mais digna quando
confrontados com provocação — na verdade, esta atitude tem em si
um fio socrático e nesta existem mais metas para a ampliação de
horizontes de compreensão do que a provação de um ponto ou a
definição de quem está certo e quem está errado. A batalha que se
transforma em uma dança de palavras e opiniões estimulando e
recompensando mutuamente — e nisso a dança cósmica de alegria e
harmonia é replicada. Ase
O!
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