domingo, 11 de março de 2012

Amantes na Floresta de Símbolos

Amantes na Floresta de Símbolos
por Nicholaj de Mattos Frisvold

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A vida é um processo de transformação, uma combinação de estados que temos de atravessar. As pessoas falham quando querem eleger uma situação e permanecer nela. Isso é um tipo de morte”.

- Anaïs Nin

À medida que andamos pelos caminhos e trilhas da vida, há um interno impulso constante que nos questiona se devemos permanecer ou seguir adiante a cada sinal ou bifurcação da estrada, A escolha de ficar, permanecer em um oásis de prazer, abençoar ou amaldiçoar é dada a todo o momento – e com essa morte surge um amigo obscuro que nos pede para ficar e aceitar a situação encontrada. Nossa jornada no mundo nos leva ao encontro com outros peregrinos, viajantes e amantes – aqui, mundos podem colidir ou fundirem-se. Em nossa jornada todos tomamos guias – por vontade própria ou por nossos atos e declarações ao mundo – e nossas estrelas-guias e a inteligência de nosso daimon prepararão o mapa único que é nossa vida – uma jornada de mil possibilidades...

Às vezes nos contemos, pois não queremos nos perder. Muito freqüentemente não queremos nos perder, pois já temos nossa âncora atracada em águas tranqüilas e seguras. Escolhemos um estado para permanecermos nele, porque isso é seguro, porque isso nos deixa livre da dor. Entretanto, não é através de nossas cicatrizes e feridas que chamamos a luz em nossa alma?

Nesta jornada conhecida por nós como vida – esta combinação de estados onde constantemente escolhemos se ficamos ou partimos – está a essência do amor com suas flechas ardentes e asas. O anjo mais incompreendido de todos, Cúpido – Eros –, o fruto do amor torna-se mercúrio e movimento quando tomado como daimon, e talvez dê algum descanso nos estados escolhidos, porém ele inspirará uma bondade amorosa, uma paixão constante e inflamará o amor repetidas vezes, como pegadas de mel na trilha que a vida toma.

Ao assumir Eros como a lanterna e bastão, lutas ocorrerão, a escuridão abraçará a terra e coração, e a paixão baterá no ritmo da confusão ao nos fazermos vulneráveis. Esta é a apaixonada natureza de Eros movendo o mundo e os mundos.
 
Isso significa que mesmo no caminho do amor destruição, ódio e antagonismo podem lhe procurar (porque eles fazem naturalmente parte de seus mistérios…) – para dar-lhe os golpes que permitirão que a luz e o amargor - amáveis orquídeas - entrem em sua alma. O amante está a todo o momento armado com o mel – seja embebido em veneno ou ervas de folia e libertinagem – e, como tal, o guerreiro amante é como o samurai que respira gélidas rosas em sua lâmina e que corta através da ignorância e ódio com um sorriso apaixonado, o que habilita a todos os envolvidos o avançar adiante na jornada – se eles aceitarem a entrada da luz.

O culto de Eros/Cupido na Antiguidade teve poucos santuários - pois ele era o próprio sumo da vida! O processo de transformação, tal como nos distanciamos da morte temporária e abraçamos o êxtase do constante ser, renovação e devir! A questão é a todo o momento se você quer viver sua vida em ondas extáticas ou na escadaria da morte e esquecimento…

Nas reluzentes luzes da lanterna de Eros a vida é uma floresta – uma floresta de símbolos. À medida que entramos nesta floresta podemos caminhar como amantes, guerreiros, bodes, pavões, fantasmas e tudo o que for escolhido e assumido. A escolha assumida revela faróis de luz e guias que nos levam aos picos da vida vividas com paixão e os vales de recusa da vida, e, portanto, morte. O amante seduzirá tanto a vida quanto a morte e espalhará o mel do veneno ou luxúria, pois cada estado concretizado é deixado nas celebrações da vida… Pois no amor também encontramos um arco-íris de polaridades, – e os poderes para conquistar todas – a essência da própria jornada. Se esta for sua jornada, ame-a e ela se revelará nas florestas do mundo, vermelho em dentes e garras, mas envolta em paz e promessa de descanso… seu abraço será um templo vivo que traz oráculos e paixões para a própria viagem – ou como Charles Baudelaire disse em uma das suas flores do mal, dadas de seu coração de amor…

Correspondências


A natureza é um templo, onde de pilares vivos, um fluxo
de palavras confusas é, às vezes, permitida a queda:
O homem viaja nele, através de florestas de símbolos, onde todos
o observam, com olhares familiares

Como ecos distantes que ao longe congregam,
em uma sombria e profunda unidade,
vasta como o ar da noite, em sua claridade,
perfumes, cores e som reverberam.

Há perfumes frescos, como as carnes das crianças,
Doces como o oboé, verdes como as pradarias,
- e outros, ricos, gloriosos e proibidos,

Possuindo o poder expansivo dos infinitos,
Âmbar, almíscar, benjoim e incenso,
que cantam os êxtases do espírito e sentido.

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