sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

A Calada do Sangue Puro




“Nosso silêncio nunca foi autorização, ‘voucher’ ou conformismo para nenhum peregrino da arte, mas sim, é devido ao que somos, já que nós fazemos a lição de casa!”

Residimos em um tempo indigesto. A ilusão de que o avanço do Conselho de bruxos ‘técnicos’ induziria o desenvolvimento humano enfraqueceu aversões contra a decadência moral da Arte conselheira que impele a cultura bruxa brasileira para um abismo sem fundo.

Desafeto, inveja, concorrência, depauperamento, tortura psicológica, falsidades, misérias, autopromoção, execuções de bulas sem nexo, e manipulações de mentes mais fracas foram tão explorados e banalizados pela indústria do conselho errado que cada vez mais provocam menor comoção entre os legítimos bruxos tradicionais. Se transpassamos uma estação atônita pela moléstia da ‘aconselhagem’ absoluta, ainda é tempo de reconhecer esse mau e olhar em seus olhos com nosso silêncio mágico e absorto.

Não é preciso lembrar a nenhum homem ou mulher de sabedoria que a autopromoção de linhagem fingida com pano de fundo para enganar trouxas é um dos personagens mais marcantes de todos os tempos. Seu surgimento nas telas da internet e youtube, atualmente, causa perplexidade na mesma medida em que provoca a desconfortável comiseração quando se dá admiração por algo grotesco.

Inspirado em episódios autênticos de psicopatia, como os do Luso Ricardo e seu rebanho de pseudo-dragões, apareceu na ficção virtual, pela primeira vez, em 1999, no romance “O Conselho do Dragão Português”, de R. A. Vieira. O ‘longa-metragem’ dura e tornou o grande vencedor do O Oscar no Inferno Chafurde Ante os Dragões sendo premiado nas principais categorias: pior pelota, pior dirigente, melhor comediante, e pior cópia, pois o trajeto foi adaptado. Foi indicado também, nas categorias, pior edição e pior linguagem falada. 


A Fábula, filmada, registrada e repetida por uma Gata amarela e sua companheira Camaleoa de jornada, enfoca os diversos distúrbios de personalidade que ocorre quando uma pessoa se mete a ser bruxa sem o devido acompanhamento de um mestre devidamente iniciado sob os moldes e gnose tradicionais. A jovem cadela camaleã nada tem de loba, uma esperançosa estudante da Arte que busca seu espaço em um ambiente reprimido por homens ‘suspeitos’ que almejam o título de dragões. Sua grande oportunidade advém quando, em meios às averiguações de uma série de trucidamentos virtuais, ela é levada a visitar os artigos dos Bruxos Tradicionais, e tecer críticas desconstrutivas acerca de uma fórmula que até mesmo o Poodle Luso acima citado desconhece.

Aprisionado em um hospício de segurança máxima, (sua própria mente), o pseudo-iniciado Luso é um desenvolvedor de web sites dinâmicos, que clama sua bruxaria de origens obscuras, extremamente incompetente, mas temido por sua abominável inteligência e capacidade de oferecer sites otimizados aos buscadores (SEO) que promete uma melhor posição no ranking do Google, Yahoo, etc., tanto quanto por sua principal característica: o hábito de degustar porções sexuais dos corpos de suas seguidoras. Luso, entretanto, ao mesmo tempo pode se passar por um ‘gentleman’, como é o caso de todo paciente bipolar ou psicótico que almeja  exibir a mais perfeita educação e gentileza enquanto, como mel para abelha, prepara o ambiente, seduzindo os inocentes com sua arte portuguesa, imperceptivelmente, ao local onde serão finalmente iniciados. 

Neste assunto, os detalhes ostentam autoridade superlativa para a construção de todo o clima. Os alertas sobre o perigo que Luso representa, os cuidados com que ele é desmascarado, o retraimento ao qual é submetido em sua cela mental, farpas indiretas trocadas sem qualquer probabilidade de interruptor humano, separação ínfima a ser observada pelos participantes de sua invenção, fluxos de diálogos discretos, tudo colabora para o edifício da articulação na dose exata, com exageros e superficialidades exotéricas, oriundos dessa personagem, nada esotérica de fato.

Claramente que não podemos deslembrar que a cooperação de Luso para com a Maribonda tem um propósito último: conseguir a ajuda de outras tradições para validar a sua própria. É por meio da “troca de favores” que a Maribonda consegue a colaboração de todos. Luso passa a fornecer pequenas pistas (SEO) em troca da possibilidade de melhor fiança de sua tradição inventada.


Mas “A Calada do Sangue Puro”, durante sua proeminência, forneceu muito espaço para reflexões. O confronto é uma aula sobre como manipular as adversidades. O espectador se volta na pele dos tradicionais que, no escuro silencioso, acossa um ‘articida’ armado de más intenções, que tanto pode estar diante do diabo dragão, sem enxergá-lo, e como tal, em busca dele.

Enquanto sob as máscaras de seres humanos os anjos caídos cultivam escrúpulos e valores bruxos tal qual o caráter e rígido código moral, os ‘dementes presas’ são incapazes de concebê-los como parte de seus ensinamentos. O esboço da formação das originalidades e da conduta ética sob os pilares da alquimia é uma das áreas mais fascinantes do conhecimento dado ao homem sábio. Remonta aos primórdios da gnose divina, filosofia antiga e cruza a história. Se por muitos períodos o que prevaleceu foram as inquirições metódicas e especulações, sem fundamentos no pensamento de Sócrates e Platão, não temos culpa desse pseudo-conhecimento tradicional avesso ao tradicionalismo que, inclusive encontra respaldo em segmentos científicos. Há que notar, como diz um dos axiomas Romani, “fácil é tirar leite de vaca que não se mexe”, cansamos de avisar que o papel da bruxa é nada mais que uma auto-transformação infinita, coisa que quem não conhece a receita não pode ter acesso à fórmula exata na hora da feitura.

Para ver a fórmula revelada, clique aqui: Ego Ego Ego

É com esse intuito que apresentei esse ensaio, para que ninguém mais tenha desculpas para não fazer a lição de casa!

Cléber Lupino Haddad

Um comentário:

  1. Você sabe que eu gostei de ver a união mencionada no texto? É tão mais confortável saber onde se reúne o lixo... :D

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